quinta-feira, maio 31, 2007

Orgulho

Era tão linda que nenhum coração poderia valer mais do que uma noite de sua fidalga doçura. Os telefonemas seguiam e era como se cada vibrar do aparelho fizesse emergir uma nova desculpa.

- pois é, ensaio de última hora, acredita?

- é, na casa da minha tia, longe pra caramba.

suspeita que se apaixonou um dia, mas atribuiu a tonteira ao álcool.


terça-feira, maio 15, 2007

Quase (ou Big City Blues)

O dia não se vê
passa pálido pela janela do escritório

o sol passou
e de cálido agora
só restam os pés
cansados

sobrescurece
e faz-se, no silêncio
um deitar de armas
pulseira


cinto


celular


fones de ouvido.

segunda-feira, maio 14, 2007

[grito]

Não é preciso saber
não é preciso fazer
quero somente que se valha
essas parcas 24 horas.

Sinceridade

Essa tal saudade

[...]

Em fim, saudade é chorar
fingindo que pode esquecer...
Mais sabendo na verdade
Que essa tal da saudade
Mata sem o amor morrer.

Valterlan Cordeiro dos Santos, poeta e cortador de cana.

sábado, abril 28, 2007

Escrita Orgânica

[O gato Sossõe, certa hora, entrava. Ele vinha sutil para o paiol, para a tulha, censeando os ratos, entrava com o jeito de que já estivesse se despedindo, sem bulir com o ar. Mas, daí, rodeando como quem não quer, o gato Sossõe principiava a se esfregar em Miguilim, depois deitava perto, se prazia de ser, com aquela ronqueirinha que era a alegria dele, e olhava, olhava, e grossava o ronco, os olhos de um verde tão menos vazio - era uma luz dentro de outra, dentro doutra, dentro outra, até não ter fim.]


Campo Geral, J. Guimarães Rosa.



Salve Guimarães! existe no mundo estilo igual?

terça-feira, abril 17, 2007

A nossa mais completa incompreensão




É que eu queria falar de sampa e me aproveito do ímpeto etílico só pra dar a fugaz sensação de que depois de um ano vivendo aqui eu consegui captar algum pouquinho da essência do lugar.


Foi quando um amigo meu, amigo novo, mas desses que merece a atenção que recebe, comentou:

"eu vim andando até aqui." pra deixar claro: era uma festa, longe, num desse cantos de São Paulo. " mas teve uma hora que me despreocupei, resolvi curtir cada rua, cada lugar que passava. É louco você pensar que alguns lugares você só vai passar uma vez na sua vida." -Laion.

Pois é, essa cidade tem dessas. várias cidades que por falta de nome e limite a gente generaliza: São Paulo.

E o tesão é que cada um faz a sua - a cidade da escolha. Ninguém percorre por inteiro a cabeça do cachorro.

domingo, abril 15, 2007

Festa da Batata Feliz




Acho que não sou só eu que me sinto só cinzas no dia seguinte. Estava a falar com Smile, a pequena batata sorriso da foto, quando me confessou:

"É que ontem eu fui numa balada com as minhas amiguinhas. MEO, fritei MUIIIITTTO!"

quarta-feira, abril 11, 2007

Nunca acredite na publicidade


Bom, piada explicada sempre perde a graça.

domingo, abril 08, 2007

Quando um blockbuster te faz pensar...o_Ô


Afora toda a parafernalha hollywoodiana, o apelo sexual, a visão contemporânea na narrativa de fatos da antigüidade e até mesmo - nunca é demais- a subliminar homossexualidade de alguns personagens, "300", isso mesmo, "300 de Esparta, o filme" dá uma discussão.

Não quero falar da qualidade. Muito menos do filme. É a História que quero abordar, nesse assalto pseudo-crítico.


É sabido que em Esparta, a glória maior era morrer em campo de batalha. Ideal. Arraigado nos homens antes mesmo dos temidos - ou não- sete anos de idade.

Nada mais próprio: em uma sociedade que se baseia na guerra, um sistema cultural que se preste a esse fim. A cultura está para a sobrevivência e não o contrário. Haveria o contrário? fica a dúvida.[ sintomaticamente uspiano]


Seria o Jihad atual na sua versão grega antiga.

Agora, um degrau acima, ou uma camada abaixo da História - sem, evidentemente, menosprezá-la, pois é dela que veio tudo isso- pensemos no humano disso tudo: é belo morrer pela glória ou verter sangue por amor. Mas hoje a gente é pós-moderno!

[raciocínio inconcluso, falta alguém pra discutir]

Dove light


Soja, hoje em dia, é um dos únicos alimentos saudáveis.
"Em casa abolimos o leite! comemos: de manhã: leite de soja; no almoço: carne de soja; na janta: pão integral com queijo. de soja."
Mas é preciso ter cuidado, já foram reportados sérios problemas com o consumo excessivo de derivados de soja.
Segundo pesquisa, o consumo de carne de frango é um dos responsáveis por mal funcionamento do pâncreas, a longo prazo, é claro. Pareado com o hábito de mascar chicletes.
Não se deve tomar mais de uma lata de refrigerante por dia. Mais do que isso é osteoporose certa.
O uso de condimentos também deve ser reduzido. Dá câncer.
Mais de quatro horas diárias sentado desalinha qualquer coluna.
Não perca: nessa edição de saúde&beleza entrevista com o ortopedista Silvio Stein falando sobre seu inovador método, a Reeducação do Sono. "O ideal é, durante o sono, variar a posição do corpo 5 vezes: uma para cada face do corpo e uma, de preferência a última, a gosto- que ninguém é de ferro, não é mesmo?". Comprovadamente benéfico.
Caminhar diariamente com o seu cão lhe contabiliza mais três anos de vida.
A inalação de poluentes presentes na atmosfera de grandes cidades como São Paulo, corresponde, num período de 5 horas, ao consumo de 6 cigarros- da marca Derby.
O vício do cigarro diminui em 16 anos a sua longevidade. Estado distribui gratuitamente cigarros à aposentados. 20 maços junto com a bonificação: uma aliança entre governo federal e cigarros Derby, o sabor do Brasil.
E a modelo, inquirida acerca do segredo vai sempre ecoar: "nenhum, eu como de tudo."


Dove light,
para você que simplesmente não consegue fechar seus poros.


P.S. ou melhor ainda,
Dove light,
pode comer sem culpa.


aliás, tá na hora de lançarem o dove com 1/4 de creme hidratante de leite de soja.




domingo, abril 01, 2007

1º de abril caiu num domingo

E eu sempre esqueço de mentir pra alguém.

Música pra germinar

Logo depois que Deus terminou tudo, foi algo parecido com isso que cantaram.

sexta-feira, março 30, 2007

Natural




"Então é isso que eu queria dizer, filha, acho que sim, que tá na hora certa de arrumar um emprego."

Afinal de contas, todos os seus amigos já desempenhavam alguma função. Jonas já tinha amigos do escritório. Amanda recebia presentes dos alunos. Felipe não conseguia quase estudar. Jornada de oito horas. O Augusto mesmo só andava de esporte fino pela faculdade.

Nos primeiros contatos eles já tinham aquele prazer de poder alongar um pouco mais o ritual:

"ah, e que-que-cê-faz?"

"eu faço administração de noite e trabalho..."

"ah, jura? trabalha com o quê...?"

''...''

Ela não. Às vezes parava até mesmo antes do meio da primeira resposta. Achava um absurdo trabalhar de graça. Mais absurdo ainda exigirem isso dela. Seria como todo mundo: um ano no MÁximo e depois a demissão sem mesuras.

Na verdade todo aquele lance de fazer administração, de trabalhar com dinheiro, sendo dona de um negócio, ou quem sabe pessoa-ramster num cubo cinza, estimulada por mais de oito horas diárias de exposição a um monitor de LCD, em que seu único amigo fosse o "mascote de ajuda do Microsoft Office" não era o que queria.

Tinha até mandado uma fita pra seleção do reality show. Caras e bocas, caras e bocas. Não pegou.

"Pai, me diz uma coisa, ainda sou linda, não sou?"

quarta-feira, março 28, 2007

"— Acaba, disse Maria, não é Caetano? "



Montagem cafonérrima de e-mail-corrente com dizeres dançando a la powerpoint.

Feche os olhos - ou, se preferir, abra o orkut - e apenas escute. É o tipo de poesia que dá outra poesia. Uma daquelas músicas que dispensam até mesmo o conhecimento da letra. Basta o início, que vibra alto no começo e segue a melodia inteira: "LUZ DO SOL..."

Foi o que aconteceu numa manhã de alegria plena, quando segurei desajeitadamente o violão, e cantei com o devido acorde, sem nunca haver lido as cifras, "LUZ DO SOL..." o resto da letra inventada não merece citação. Ocorre que somente muito tempo depois é que ouvi a mesma exclamação na rádio...

Emoção que ficou guardada, esperando a mesma frequência para vibrar-nascer de novo...luz do sol.

Vejamos...

Com preguiça de fazer um novo espaço e também interessado no valor documental -no mínimo duvidoso- do que fora escrito por essas colunas brancas, decido reavivar as queixas, que já não sei nem se queixas são. E assim, depois de tanto tempo, resolvo voltar ao experimentalismo da escrita.

Proponho-me o abandono do projeto intimista. Nem eu entendo muito bem o que vem 'disso' -por falta de referencial melhor.

Vou falar dos outros, do lido, do ouvido, do visto e talvez até mesmo desse recurso de abordar todos os sentidos. Vejamos.