sexta-feira, março 30, 2007

Natural




"Então é isso que eu queria dizer, filha, acho que sim, que tá na hora certa de arrumar um emprego."

Afinal de contas, todos os seus amigos já desempenhavam alguma função. Jonas já tinha amigos do escritório. Amanda recebia presentes dos alunos. Felipe não conseguia quase estudar. Jornada de oito horas. O Augusto mesmo só andava de esporte fino pela faculdade.

Nos primeiros contatos eles já tinham aquele prazer de poder alongar um pouco mais o ritual:

"ah, e que-que-cê-faz?"

"eu faço administração de noite e trabalho..."

"ah, jura? trabalha com o quê...?"

''...''

Ela não. Às vezes parava até mesmo antes do meio da primeira resposta. Achava um absurdo trabalhar de graça. Mais absurdo ainda exigirem isso dela. Seria como todo mundo: um ano no MÁximo e depois a demissão sem mesuras.

Na verdade todo aquele lance de fazer administração, de trabalhar com dinheiro, sendo dona de um negócio, ou quem sabe pessoa-ramster num cubo cinza, estimulada por mais de oito horas diárias de exposição a um monitor de LCD, em que seu único amigo fosse o "mascote de ajuda do Microsoft Office" não era o que queria.

Tinha até mandado uma fita pra seleção do reality show. Caras e bocas, caras e bocas. Não pegou.

"Pai, me diz uma coisa, ainda sou linda, não sou?"

3 comentários:

Anônimo disse...

e se te contasse que um simples "ok then" não basta.
Estou apaixonada por você, e claro, você não sente o mesmo afinal nem me conheçe,mas sei que não é platonico.em cada texto o autor poem fragmentos de si e em cada fragmento me indentifico e me apaixonei..
me desculpe

Anônimo disse...

poderia apenas dizer seu nome?
sonharei com ele

Anônimo disse...

cruel quando quer, hein? trés beau, monsieur.